Um
amigo me sugere que fale sobre o público minoritário da poesia. Por que tão
poucos são os leitores de poesia? Se eu não estivesse tão atarefado e fosse
mais prudente pararia para fazer uma pesquisa, pois se trata de uma questão
delicada e complexa. Dadas as circunstâncias, deixo meus pruridos de
pesquisador de lado e esboço uma resposta das mais breve possíveis.
Antes
de tudo, é preciso responder: que tipo de poesia tem público minoritário?
Suponho que, como eu, meu amigo esteja pensando na poesia da literatura
“oficial”, da “alta” literatura. Pois o cordel (ao menos aqui no Nordeste) e as
letras de músicas têm um público cativo que não pode ser desconsiderado. Ambos
comunicam experiências vivas aos seus públicos, ambos obtêm respostas
empolgadas e empolgantes desse público. Mas a poesia da alta literatura parece
que é produzida para o consumo interno: todos os grandes leitores dessa poesia
que eu conheço, a começar por mim, também a produzem. Trata-se, sem mais nem
menos, de uma seita, como já a chamou Octavio Paz. Por que essa poesia tem um
público tão limitado? Arrisco cinco hipóteses, consciente de que darei uma explicação
bastante incompleta e nada exaustiva.
Em
primeiro lugar, a poesia moderna, pós-baudelairiana, com seu hermetismo, sua metalinguagem,
sua ironia autoconsciente, seu horror à experiência comum, é uma poesia que se
quer, e se faz, contracomunicativa, uma coisa de iniciados. Quase todas as
vanguardas seguiram o mesmo caminho: o gosto pelo hermetismo, o metalinguismo,
a experimentação sem freios e o menoscabo pela comunicação. Há exceções, é
claro, há os Whitmans, os Nerudas, os Cabrais.
Em
segundo lugar, a chamada cultura de massa destronou a poesia (a grande
literatura em geral) de sua função formativa-informativa. O prazer difícil da
poesia virou coisa de pária – de intelectuais ressentidos, de eruditos
nostálgicos, de humanistas esnobes etc. Não concordo nem um pouco que haja uma
ruptura radical entre alta cultura e cultura de massa; da mesma forma, não
demonizo a cultura massiva. Mas que ela reelaborou espertamente em pautas mais
suaves e palatáveis as grandes conquistas formais da alta literatura não resta
dúvida.
Em
terceiro lugar, há o medo imbecil de certos platonistas de plantão de que a
poesia seja corruptora dos bons costumes.
Em
quarto lugar, há os platonistas aos avessos que querem reduzir a poesia à
pregação política e/ou moral. A poesia como instrumento de promoção da justiça
social. É a praga do politicamente correto (que nem sempre é tão correto quanto
se pensa).
Em
quinto lugar, há um fenômeno que talvez não seja mundial, mas tipicamente
brasileiro: o coro de professores de literatura incompetentes, em todos os níveis
de ensino, que vivem repisando o mantra de que poesia é difícil. Estes
palradores muitas vezes preferem o romance, penso eu, porque é mais fácil divagar
no comentário de obras romanescas do que no de um poema: é quase impossível
interpretar um poema sem virar e revirar sua carnadura, sua arquitetura.
Tudo
isso são considerações genéricas. Haveria muito o que se falar contra boa parte da poesia que se faz
hoje, buscando argumentar que muitos poetas estão se lixando para o fato de que
só seus pares os leiam. Mas me furto de tratar disso agora por falta de tempo e
de leituras mais sistemáticas das obras de meus confrades.