Éramos eu e o mar. O mar estava só e só eu
estava. Um dos dois faltava.
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Quase não toquei o barro e sou de barro.
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Meus olhos, por haverem sido pontes, são
abismos.
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A dor não nos segue: caminha adiante.
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Um coração grande se farta com muito pouco.
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Quando me fizeste outro, te deixei comigo.
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O que somos é para algo que não somos.
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Ser alguém é ser alguém só. Ser alguém é
solidão.
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E se o amor é o amor perdido, como encontrar
o amor?
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Toda pessoa anônima é perfeita.
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Os sins e os nãos são eternidades que duram
momentos.
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O que dizem as palavras não dura. Duram as
palavras.
Porque as palavras são sempre as mesmas
e o que dizem não é nunca o mesmo.
Antonio
Porchia
(1885 - 1968) nasceu na Itália. Em 1900, após a morte de seu pai, mudou-se para
a Argentina. Escreveu o livro de
aforismos “Voces”, sua única obra. Teve
entre seus admiradores André Breton, Jorge Luis Borges e Henry Miller.