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Sacrifício de Isaac por Rembrandt |
Deus me deu o dom da
paternidade. E o fato de eu ser pai é o princípio (arqué) de parte considerável dos meus gestos de bondade: como
professor, como amigo, como cidadão. Essa convicção faz com que eu reconheça a
boa intenção, mas não me encante nem um pouco, com certas exteriorizações pós-modernas
do amor pelo filho, como o hábito de tatuar o nome dos pequenos no corpo ou o
de escrever a cada minuto nas redes sociais que os ama. Tais gestos são
sinceros, verdadeiros – atire a primeira pedra o pai ou a mãe que nunca fez
algo parecido! – mas a meu ver absolutamente redundantes. Eles dizem que você
ama seu filho, o que todos já sabem, mas não indicam em que esse amor fez você
tornar-se uma pessoa melhor. Afinal, não implica grandes méritos nem requer
grandes esforços gostar do filho e achá-lo o mais bonito. É amor, mas não amor
(ágape) que age em prol do outro. No
limite, tais gestos podem ser confundidos com narcisismo oco – e infelizmente,
algumas vezes, são isso mesmo.
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