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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Retalhos [3]


"A Razão do Poema", de José Guilherme Merquior, acaba de ser relançado pela É Realizações. Fiz um posfácio para esta nova edição - "A razão poética segundo José Guilherme Merquior" - explorando basicamente dois pontos: a ligação daquele livro com a obra posterior de Merquior e os valores que guiam as escolhas e os julgamentos do autor nos ensaios críticos e analíticos ali contidos. Um dos poucos livros sobre poesia, escrito por um brasileiro, que podemos qualificar de clássico imprescindível.


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DE UM DIÁLOGO COM MEU FILHO

-Aquela parte do livro que a gente pula.
- Qual, Icaro?!
- O prefácio.

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E em meio às habituais - e não raras vezes, justas - contestações ao Prêmio Jabuti, tomo ciência de que meu mestre LUIZ COSTA LIMA conquistou um justíssimo primeiro lugar na categoria "Teoria e crítica literária" com o seu A FICÇÃO E O POEMA. Tive a honra de ser um dos primeiros a comentar brevemente aquela obra e fazer uma rápida entrevista com seu autor, na dEsEnrEdoS. Quem desejar re/ler, eis o link: http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/15-ent-LCostaLima.pdf

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Descobrir que importamos pouco, e para bem poucas pessoas, é desconfortante no princípio e uma alegria duradoura quando refletimos mais a fundo. Como disse um filósofo, quem ama demasiado a humanidade se esquece do homem concreto. Quem diz que tem 500 amigos é provável que tenha de fato 1 ou nenhum; quem diz que tem 3 é bem capaz de ter realmente 3 amigos. Quando essa descoberta de nossa pouca importância se dá num contexto de fé autêntica, alegria torna-se mesmo uma palavra insuficiente, imprecisa: talvez devêssemos falar em graça. Falta bom senso e maturidade - acima disso, falta fé - em quem quer ser marcante a qualquer custo e para um monte de pessoas. Raras são as celebridades sem pés de barro e os populares sem laivos de fascismo.



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Santa Teresa d'Ávila, padroeira dos professores


Hoje é o dia dos professores, cuja padroeira é Santa Teresa d’Ávila, a grande mística espanhola do século XVI e, para mim, a maior escritora de seu idioma. A respeito da grandeza e da significação cultural de Teresa d’Ávila, Carpeaux escreveu uma belíssima síntese no artigo “A lição de uma santa” (http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/11267/Artigo-de-Otto-Maria-Carpeaux-A-licao-de-uma-Santa). Sua obra “O castelo interior” é a que mais recomendo: está sem dúvida entre o que de melhor e mais profundo produziu a humanidade em qualquer época e lugar. Em 2009, traduzi dois poemas da santa para a dEsEnrEdoS: http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/02_traducao_-_teresa_davila_-_wanderson.pdf. Próximo ano virá à luz, pelas Edições Nephelibata, um pequeno volume de poemas dela e de Juan de La Cruz traduzidos por mim.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Retalhos [2]






Tá certo, tudo bem: toda seleção é questionável e pode ser que bons e ótimos poemas tenham ficado de fora (lembro pelo menos de um do Torquato e outro do Leminski melhores que os selecionados). Mesmo assim me espanta a debilidade dos 10 poemas escolhidos - a imaginação rasteira, o nível cognitivo e o domínio linguístico ginasianos, a pobreza experiencial e a secura espiritual. Eu não tenho dúvidas de que tomada em seu conjunto, desconsiderando portanto esta ou aquela contribuição individual, a Poesia Marginal foi a pior merda que aconteceu à poesia brasileira no século XX

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"Causou-me sempre uma certa angústia pensar que todas as línguas se limitam a meia dúzia ou uma dúzia talvez de palavras para nomear tudo o que uma pessoa pode sentir por outra, pode pretender de outra. Enquanto que os vocabulários da agricultura, da pecuária, da caça, da guerra, dos jogos são prolixos, minuciosos, inesgotáveis, o da convivência pessoal é incrivelmente tosco. E como a língua fornece a pauta da primeira interpretação da vida, a prisão linguística obstrui a liberdade das relações pessoais. Não sabemos bem o que pretendemos de cada pessoa - e de fato não o pretendemos e não o conseguimos - porque não temos palavras com que o nomear" (JULIÁN MARÍAS, "Antropologia metafísica", p. 235-236)


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O Facebook é o lugar inautêntico onde as pessoas mais clamam por autenticidade. Não suporto mais esse lengua-lengua de 'seja você mesmo e viva feliz'. Primeiro, é uma grande besteira esse papo de ser feliz; quem cai nessa vive geralmente mentindo para si e para os outros, levando bofetada da vida e fingindo que está sendo beijada. Segundo, ser você mesmo custa caro: a autenticidade raramente é premiada. Se você quer ser você mesmo, ainda que seja uma pessoa polida e compreensiva, prepara-se para as porradas do mundo!

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“Trazendo o texto para a realidade...”. De cada dez vezes que ouço esta frase, em nove delas a pessoa quer mesmo é recusar o esforço interpretativo e ficar no seu mundinho particular. Pura negação da alteridade.

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“A vida é um combate cotidiano contra a estupidez própria” (Nícolas Gómez Dávila).