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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dos livros que não lemos



A pletora de livros que não lemos e que descansam ao nosso lado, em nossa biblioteca, ou em alguma livraria, à nossa espera. Isto deve ser para nós motivo de júbilo e não de desespero. (O único desespero real é o acúmulo irracional, porque compulsivo, de livros; ou, como alertava Schopenhauer, acreditarmos que a simples posse material de um livro nos dará acesso ao seu conteúdo). O desejo sincero de ler tudo o que nos interessa – mesmo que esse “tudo” seja superior à capacidade de uma vida – enche nossa vida de esperança, acena para um futuro de agradáveis encontros, nos segreda a possibilidade constante e real de uma virada em nossa existência. Quem tem muita coisa para ler não tem pressa de morrer. Olho para a estante à minha frente e vejo os dois volumes de “A Cidade de Deus”, de Santo Agostinho. Eu sei que preciso lê-los um dia. Talvez nas próximas férias, quem sabe. Aqueles dois volumes são dois faróis de esperança em minha vida... e se, lendo-os, eu me tornar outro, alguém melhor? Nem todas as promessas e expectativas positivas que compactuamos com a leitura se cumprem. Isso é óbvio e não deve nos entristecer ou desestimular. Uma esperança não cumprida que, de qualquer forma, nos move em busca do autocultivo já não pode ser creditada como tempo perdido; além disso, um grande livro que nos decepciona hoje pode nos ser fundamental amanhã – quase todo leitor tem uma história dessa natureza para contar. Os livros que ainda não lemos, mas que acreditamos com sinceridade que precisamos ler, contêm em potencial a nós mesmos numa versão, seja em que ponto for, melhorada.

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