A NOITE EM QUE NO SUL O VELARAM
Pela
descida de alguém
–
mistério cujo vacante nome possuo e cuja realidade não abarcamos –
até
a aurora há uma casa aberta no Sul,
uma
ignorada casa que não estou destinado a rever,
mas
que me espera esta noite
com
desvelada luz nas altas horas do sono,
carcomida
por noites más, distinta,
minuciosa
de realidade.
Para
sua vigília gravitando em morte caminho
por
ruas elementares como lembranças,
pelo
tempo abundante de noite,
sem
mais vida audível
que
os folgados do bairro junto ao armazém apagado
e
algum assovio solitário no mundo.
Lento
o andar, na posse da espera,
chego
à quadra e à casa e à sincera porta que busco
e
me recebem homens constrangidos à gravidade
que
viveram nos anos de meus antepassados,
e
nivelamos destinos no aposento provido que mira o pátio
–
pátio que está sob o poder e na integridade da noite –
e
dizemos, porque a realidade é maior, coisas indiferentes
e
somos apáticos e argentinos no espelho
e
o mate compartilhado mede horas vãs.
Comovem-me
as pequenas sabedorias
que
em todo falecimento se perdem
–
hábito de alguns livros, de uma chave, de um corpo entre outros.
Eu
sei que todo privilégio, ainda que obscuro, é da linhagem do milagre
e
é muito o de participar nesta vigília,
reunido
ao redor do que não se sabe: do Morto,
reunida
para acompanhar e guardar sua primeira noite na morte.
(O
velório gasta os rostos;
nossos
olhos estão morrendo no alto como Jesus).
E
o morto, o incrível?
Sua
realidade está sob as flores diferentes dele
e
sua mortal hospitalidade nos dará
uma
lembrança mais para o tempo
e
sentenciosas ruas do Sul para merecê-las lentamente
e
brisa obscura sobre a fronte que se volta
e
a noite que da maior aflição nos livra:
a
prolixidade do real.
(In:
Cuarderno San Martin. Obras Completas.
Buenos Aires: Emecé, 1974, p. 88-89)
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