Conheci
E. M. Cioran pelas mãos da amiga Marleide Lins, em fins dos nos 90. Não conhecia nada de
gnosticismo, nem de mística, e muito menos sabia o sentido da expressão
ontologia, mas, como já tinha lido Camus e Dostoievski, vi em Cioran algo como
um existencialista de gueto, um niilista lúcido mas em vias de perder os
sentidos. Através de Cioran cheguei a Teresa D'Ávila, que me levou a Juan de la
Cruz, que por sua vez me atiçou a conhecer a literatura e a mística espanhola.
Hoje, digo e repito: escolhi como pátria espiritual a Espanha. Ou seja, Cioran
fertilizou minha vida intelectual; deu-me a Espanha de presente e, ateu místico, me ajudou a chegar a Deus. Recentemente, voltei a reler o filósofo
romeno por sugestão de outro filósofo que muito admiro: Sloterdijk. Eis que
então, na semana passada, Adriano Lobão Aragão, o melhor presenteador que eu conheço, me oferta a nova edição de
"Silogismos da amargura", um dos cinco melhores livros do autor. Os
outros quatro são: "Breviário de decomposição", "Exercícios de admiração" e dois
não traduzidos no Brasil: "El aciago demiurgo" (Le mauvais démiurge) e "De lágrimas
y de santos" (Lacrimi si Sfinti). Eis 3 aforismos desse livro lírico e impiedoso
em último grau:
"Fracassar
na vida é ter acesso à poesia - sem o suporte do talento"
"O
pessimista deve inventar cada dia novas razões de existir: é uma vítima do
'sentido' da vida".
"Dom
Quixote representa a juventude de uma civilização: ele se inventava
acontecimentos; nós não sabemos como escapar aos que nos perseguem".
Sugiro fortemente a leitura de "Silogismos da amargura". Além de ser uma excelente porta de entrada no universo do pensador romeno - todos os seus temas prediletos estão lá -, a tradução de José Thomas Brum recria o estilo cioraniano com muita felicidade.
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