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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Deus vos livre, leitores, de tropeçar com um literato”


Miguel de Unamuno disse: “Deus vos livre, leitores, de tropeçar com um literato. Com um genuíno literato, com um profissional das letras, com um ebanista de prosa envernizada. É uma das piores desgraças que nos pode acontecer”. E antes de Unamuno, Nietzsche já dizia que quem quer se um escritor de relevo deve antes se envergonhar de ser um homem de letras.

De fato, o escritor (refiro-me especialmente ao tipo literato) é não raro um ser repugnante: egocêntrico, mimado, incapaz de ouvir, irritantemente autocentrado, cheio de manias ridículas. Nas conversas corriqueiras, literatos costumam sustentar opiniões absurdas, frágeis a qualquer argumentação séria, para se sobressaírem perante as “pessoas comuns”, que supostamente só pensam o óbvio. A tuberculose matou muitos; a AIDS tirou a vida de alguns; mas a síndrome romântica do gênio incompreendido foi a praga que mais destruiu literatos nos últimos séculos. O desejo de ser diferente ou de dizer diferente para parecer especial leva facilmente o sujeito a tornar-se un ebanista de prosa barnizada.

Para alguns, o remédio é o magistério. De fato, o ensino ajuda a equilibrar as inclinações egocêntricas do escritor, dando a ele certo bom senso. Mas até entre escritores-professores há os incuráveis; quem em sua vida estudantil não tropeçou com um desses sujeitos que pensam ser a matéria central das aulas a vida deles próprios?

Nada é mais entediante do que o gênio auto-proclamado.


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