Cada vez que um aluno meu dá
um curtir nessas páginas do Face com frases do Wesley Safadão ou do Chorão fico
pensativo. Não sou um alarmista apocalíptico nem um assecla da Ditadura do Bom
Gosto: não penso que ouvir músicas da Garota Safada ou do Charles Brown Jr. vá macular
ninguém. Mas estranho quando alguém que lê e discute clássicos da literatura em
sala de aula escuta o Safadão ou o Chorão atento à “mensagem” das letras, em
busca de um norte para vida, elevando-os à condição guru (alguém dirá que é um
fenômeno adolescente, no que concordo em parte, desde que a adolescência tenha
se estendido até por volta dos 40 anos). Eu fico pensando: como é que o sujeito
não percebe ali, naquelas composições e frases de Twitter-Facebook, a
banalidade clichê, o mau gosto da imagem, o domínio precário do português. Há fatores
ligados ao sistema educacional e à sua precariedade que estimulam e promovem
este estado de coisas – e são tantos os motivos que, se eu fosse elencá-los, transformaria
este fragmento num tratado. Há também problemas concernentes à esfera
individual, que também não são poucos. Mas, se remetermos à questão para um
âmbito mais geral, aquilo que Lyotard denominou fim na crença em metanarrativas produz não poucas vezes um
indivíduo que, esvaziado de utopias políticas e sem o sentido profundo da vida
que metanarrativas como o cristianismo produzem, se apegam ao primeiro refrigério,
degradado que seja, que lhe oferecem. Demitimos o trágico e desiludimos das
utopias. E ao niilismo alegre que sobreveio é suficiente se apegar a um punhado
de frases de auto-afirmação e conselhos sentimentais alinhavados em mau
português e com inclinação ao Kitsch. Por isso, no que diz respeito ao que se
discute aqui, Safadão e Chorão podem ser mais bem compreendidos não como
cantores, mas como contrafações de Roberto Shinyashiki, Augusto Cury & Cia.
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