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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dos livros que não lemos



A pletora de livros que não lemos e que descansam ao nosso lado, em nossa biblioteca, ou em alguma livraria, à nossa espera. Isto deve ser para nós motivo de júbilo e não de desespero. (O único desespero real é o acúmulo irracional, porque compulsivo, de livros; ou, como alertava Schopenhauer, acreditarmos que a simples posse material de um livro nos dará acesso ao seu conteúdo). O desejo sincero de ler tudo o que nos interessa – mesmo que esse “tudo” seja superior à capacidade de uma vida – enche nossa vida de esperança, acena para um futuro de agradáveis encontros, nos segreda a possibilidade constante e real de uma virada em nossa existência. Quem tem muita coisa para ler não tem pressa de morrer. Olho para a estante à minha frente e vejo os dois volumes de “A Cidade de Deus”, de Santo Agostinho. Eu sei que preciso lê-los um dia. Talvez nas próximas férias, quem sabe. Aqueles dois volumes são dois faróis de esperança em minha vida... e se, lendo-os, eu me tornar outro, alguém melhor? Nem todas as promessas e expectativas positivas que compactuamos com a leitura se cumprem. Isso é óbvio e não deve nos entristecer ou desestimular. Uma esperança não cumprida que, de qualquer forma, nos move em busca do autocultivo já não pode ser creditada como tempo perdido; além disso, um grande livro que nos decepciona hoje pode nos ser fundamental amanhã – quase todo leitor tem uma história dessa natureza para contar. Os livros que ainda não lemos, mas que acreditamos com sinceridade que precisamos ler, contêm em potencial a nós mesmos numa versão, seja em que ponto for, melhorada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Luiz Costa Lima: “Frestas: a teorização em um país periférico” (RJ, Contrapondo/PUC, 2013)


Recebi ontem o novo livro do mestre Luiz Costa Lima: “Frestas: a teorização em um país periférico” (RJ, Contrapondo/PUC, 2013). Pelo que eu pude vislumbrar numa rápida olhada, o livro cumpre quatro desígnios: é um testamento biográfico de uma trajetória ímpar, uma súmula dos temas que obsedaram o autor em sua trajetória intelectual (“mímesis” e “controle do imaginário”), uma reflexão nada otimista sobre o sistema intelectual brasileiro e – a parte mais importante a meu ver – um avanço na teorização do estatuto da ficção: Costa Lima extrapola o âmbito propriamente literário para refletir sobre o funcionamento da ficção no cotidiano. Desdobra, assim, aos nossos olhos o conceito de “ficção externa”, já aludido na obra anterior – “A ficção e o poema” (2012). Já comecei a ler a obra e breve espero escrever sobre ela. Fica, de antemão, minha sugestão de leitura aos colegas da área!



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Retalhos [4]: Rei do camarote, homem emocional, empatite etc


# 1

Sobre o REI DO CAMAROTE, duas observações: 1) Como supostamente falou Borges, "o luxo é a forma mais dispendiosa da vulgaridade"; 2) Haja ressentimento coletivo! Ver gente que só não é tão vulgar como o "rei" por não ter recursos a pregar lições de humildade e bom senso é de embrulhar o estômago!

# 2

“Cada período da história tem seu tipo humano ideal. A sociedade medieval conheceu o cavaleiro valoroso e cortês. O Renascimento inventou o homem da corte, il cortegiano, mescla harmoniosa de decoro, elegância, virtude e fidelidade ao príncipe. O século XVII teve o homem de sociedade, o século  XVIII, o filósofo esclarecido, e o século XIX exaltou o empresário audacioso, o ‘burguês conquistador’. Qual é, em nossa época de individualismo extremo, o tipo humano ideal? É o ser que cultua a emoção, o homem emocional, o Homo sentiens.
(...)
O ideal do homem emocional é acompanhado por uma exigência de autenticidade. O indivíduo só é ele mesmo, enuncia esse ideal, a partir do momento em que pode sentir e exprimir as emoções que nos agitam a alma.
(...)
Com essa exigência de autenticidade articula-se uma filosofia antiintelectualista, que está em plena ressonância com o espírito de nossos tempos. O culto da emoção inverte a escala habitual das faculdades da alma. Faz com que a celebridade desça do seu pedestal. A existência realmente humana, segundo ele, não é a que nos leva à intelectualidade, mas a que conduz ao sensório, ao primitivismo dos sentidos.”
(Michel Lacroix, “O culto da emoção”, 2006, p. 37-38)

# 3

Amigos e amigas que compram no Estante Virtual! EVITEM comprar pela LIVRARIA PAPIRUS SEBO, de Curitiba. Comprei o livro "Destino e Identidade", de Hubert Lepargneur, no início de setembro e até hoje nada! Começaram culpando os Correios e agora sequer me respondem. Compro no Estante Virtual desde 2006, já fui até vendedor por lá e nunca isso havia me acontecido. A LIVRARIA PAPIRUS SEBO NÃO É SÉRIA!

# 4


Posso me esquecer de muitas coisas, mas jamais da primeira camisa do Corinthians que eu ganhei. Em meados da década de 80, meu amigo e parente Manoelpereira veio de São Paulo para Valença-PI com uma Kalunga-Topper dessas e, ao saber que eu era corinthiano, me presenteou com ela. Não sei se em toda minha vida cheguei a ganhar um presente melhor. Até hoje a simplicidade do modelo da Kalunga-Topper anos 80 me fascina: é a minha preferida de todos os tempos. Minha primeira namorada acho que se chamava Leda, não lembro bem. Mas da primeira camisa do Corinthians eu nunca me esquecerei.

# 5

30 milhões de brasileiros estão sofrendo de uma doença chamada EMPATITE. Os principais sintomas desse mal são o tédio, a apatia, o sono frequente e o desapego ao time do coração.