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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Retalhos [1]


Se há uma marca singular da cultura universitária brasileira hoje é a presença soberana, impositiva, dos formulários. Uma das principais atividades de um professor com doutorado em uma universidade pública hoje é preencher formulários; sua principal virtude é a paciência. Capacidade intelectual e domínio de escrita são importantes, mas não imprescindíveis: um professor burro e incapaz de articular duas frases com um conectivo correto, se tiver paciência e pegar o jeito do gênero formulário, preenchendo-o com aquelas fórmulas batidas, pode mover mundos.

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A dEsEnrEdoS acaba de conquistar o Qualis B4 na área de Educação. Antes já possuíamos aquela qualificação em Letras, História, Filosofia e Teologia. Nosso Qualis até poderia ser maior, mas é sempre bom lembrar que somos independentes, sem vínculos com editoras ou programas de pós-graduação. O que nos alegra é que, desde o princípio, procuramos estimular o debate de Humanidades sem preconceitos, embora tomando como eixo central a Literatura. Não por acaso nos denominamos "uma revista de cultura e literatura". Agradeço aqui a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram nesses anos com a revista!

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A leveza custa caro. É difícil. E às vezes apenas procrastina uma dor maior. Por isso eu gosto tanto dos islandeses do Múm: http://www.youtube.com/watch?v=VeaRDcdwrZg


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O IRON MAIDEN é minha madeleine proustiana. Uma parte de minha história adolescente passa como um filme em minha cabeça quando os caras começam a tocar. Eu nem sei se estou aqui onde me encontro ou se estou lá em Valença, no início dos anos 90, com alguns amigos que me são diletos até hoje.

Falo isso tudo do Iron Maiden sem fazer nenhum ajuizamento estético sobre a banda que hoje ouço muito pouco. A maior besteira do mundo é supor que só as grandes obras e os grandes mestres abalam profundamente a nossa vida.

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"Escrever as coisas tal como aconteceram é tornar-se escravo de sua própria memória, que é um elemento menor do processo criativo [...]. Os materiais são de fato extraídos da vida do autor, mas em última análise a criação é uma criatura independente [...]. A realidade é sempre mais forte que a imaginação humana. Além disso, a realidade pode se dar ao luxo de ser inacreditável, inexplicável, desproporcional. A obra criada, infelizmente, não tem esse direito." (Aharon Appelfeld)

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Há um bom tempo venho dizendo que o espaço de comentários de sites e blogs é o esgoto da notícia. Sob o pretexto de democratizar o debate, este espaço tem servido mesmo é para escroques e pusilânimes, escondidos sob a proteção do anonimato ou do perfil fake, despejarem ignorância, preconceito e grosseria. Lendo agora mesmo, no blog do Alfredo Werney, os comentários de anônimos a uma crítica que ele fez do filme "Cine Holliúdy" reforcei esta minha crença. Apenas um comentário, embora grosseiro, propõe uma leitura alternativa; o restante nem merece ser lido até o final. Me solidarizo com o Alfredo e com todas as pessoas que, sem ganharem um centavo, buscam impulsionar o debate cultural na rede e só ganham em troca as patadas de covardes que sequer têm a hombridade de mostrarem a cara. Discordar só é válido se houver bom senso e argumento - quem só sabe xingar está num nível infra-humano de convivência.

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