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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Retalhos [2]






Tá certo, tudo bem: toda seleção é questionável e pode ser que bons e ótimos poemas tenham ficado de fora (lembro pelo menos de um do Torquato e outro do Leminski melhores que os selecionados). Mesmo assim me espanta a debilidade dos 10 poemas escolhidos - a imaginação rasteira, o nível cognitivo e o domínio linguístico ginasianos, a pobreza experiencial e a secura espiritual. Eu não tenho dúvidas de que tomada em seu conjunto, desconsiderando portanto esta ou aquela contribuição individual, a Poesia Marginal foi a pior merda que aconteceu à poesia brasileira no século XX

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"Causou-me sempre uma certa angústia pensar que todas as línguas se limitam a meia dúzia ou uma dúzia talvez de palavras para nomear tudo o que uma pessoa pode sentir por outra, pode pretender de outra. Enquanto que os vocabulários da agricultura, da pecuária, da caça, da guerra, dos jogos são prolixos, minuciosos, inesgotáveis, o da convivência pessoal é incrivelmente tosco. E como a língua fornece a pauta da primeira interpretação da vida, a prisão linguística obstrui a liberdade das relações pessoais. Não sabemos bem o que pretendemos de cada pessoa - e de fato não o pretendemos e não o conseguimos - porque não temos palavras com que o nomear" (JULIÁN MARÍAS, "Antropologia metafísica", p. 235-236)


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O Facebook é o lugar inautêntico onde as pessoas mais clamam por autenticidade. Não suporto mais esse lengua-lengua de 'seja você mesmo e viva feliz'. Primeiro, é uma grande besteira esse papo de ser feliz; quem cai nessa vive geralmente mentindo para si e para os outros, levando bofetada da vida e fingindo que está sendo beijada. Segundo, ser você mesmo custa caro: a autenticidade raramente é premiada. Se você quer ser você mesmo, ainda que seja uma pessoa polida e compreensiva, prepara-se para as porradas do mundo!

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“Trazendo o texto para a realidade...”. De cada dez vezes que ouço esta frase, em nove delas a pessoa quer mesmo é recusar o esforço interpretativo e ficar no seu mundinho particular. Pura negação da alteridade.

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“A vida é um combate cotidiano contra a estupidez própria” (Nícolas Gómez Dávila).

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