“E
o que mata é, justamente, a humildade. Dirão vocês que o Piauí tem a modéstia
do pequeno, sim, a modéstia do pobre. Já contei, aqui, o que ocorreu no
Vaticano. Uma senhora brasileira foi recebida pelo papa. Poucas palavras. Ao se
despedir, Sua Santidade pediu, num sussurro: - "Reze por mim". Podia
ter essa humildade porque era o papa”.
(Nelson Rodrigues, na
crônica mui acertadamente intitulada “Nunca houve tamanha solidão na Terra”).
Se quisermos brincar de
arquétipos – ainda que estes não sejam ferramentas heurísticas lá muito
confiáveis –, podemos afirmar que há dois arquétipos básicos para identificar o
sujeito piauiense: o vaqueiro com sua solitude
e o pedreiro com sua solicitude.
Ambos de uma fidelidade canina. Tal
fidelidadeporém, degenera facilmente, muito facilmente, em subserviência. É difícil encontrar um típico piauiense –
digo, aquele sujeito interiorano, não estudado em excesso nem corrompido pelo
dinheiro fácil – que não que se porte com uma lealdade que trilha na linha
tênue entre o prestativo e o subserviente. Mesmo nos círculos dos bem situados
economicamente ou na vida acadêmica, longe portanto desse utópico e
fantasmagórico “típico”, é fácil encontrar piauienses subservientes.
*
O piauiense é um pernambucano
desfibrado.
*
A Irene do poema de Manuel
Bandeira nasceu no semi-árido do Piauí.
*
Quando o piauiense supera a
subserviência ele não raras vezes cai no auto-fechamento orgulhoso.
*
O piauiense, como o
cearense, tem uma vocação notável para o humorismo de natureza auto-irônica. Isto
significa às vezes auto-depreciação como mecanismo de defesa; mas às vezes, na
maioria das vezes, significa: ser capaz de um olhar minimamente distanciado e sem
comiseração sobre si próprio. Aí se concentra boa parte de sua dignidade.
*
O piauiense nunca coloca os
dois pés no chão: ele não está bem está onde está mas não quer voltar para onde
esteve.
*
Em geral, o piauiense só
concebe três saídas existenciais no plano da realização pessoal: o estudo, São
Paulo (ou sua variante: Brasília) e o Armazém Paraíba.
*
Teresina, a capital do
Piauí, é maior deserto intelectual de pessoas obsessivamente estudiosas do
Brasil.
*
Quase tudo o que de bom se
produziu no Piauí em termos culturais tem a marca daquilo que os piauienses
mais querem se livrar: suas raízes patriarcais, conservadoras, anti-modernas.
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário