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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Neto e o comentário futebolístico



                                                          

Comentário futebolístico só é interessante ou quando estetiza o futebol, transformando-o em arte (Nelson Rodrigues) ou quando o analisa pelo viés tático (Paulo Vinícius Coelho, André Rocha, Eduardo Cecconi), demonstrando a racionalidade da guerrilha que se desenrola no campo. Infelizmente, a maioria dos que falam de futebol na grande mídia não têm talento nem para uma coisa nem para outra e, assim, ficam tagarelando, a remendar caprichos com desleixos numa teia tanto insípida quanto inútil. Neto é um desses tagarelas. Enquanto não tinha aprendido sequer o básico dos cacoetes jornalísticos, o programa apresentado por ele, Os Donos da Bola, possuía um humor involuntário que dava toda a graça ao programa. Entre uma opinião sensata e cinco entre consensuais e tolas, Neto tropeçava no cenário, no português e no bom senso, e assim ríamos com ele (e não exatamente, pelo menos não necessariamente, dele). Mas agora, à medida que o ex-craque se profissionaliza, esse humor escasseia. Se Neto um dia aprender a simular completamente os trejeitos de um jornalista profissional, adeus humor. E, desaparecendo o humor, o que sobra é um falastrão querendo fazer o papel de franco atirador quando, na verdade, não tem a mínima coragem de arriscar-se. Fala, por exemplo, que Rogério Ceni é um grande goleiro e que Elton é um atacante perna-de-pau; critica a cúpula administrativa do Palmeiras e do Flamengo e elogia a do Corinthians e a do Inter. Ou seja, diz aquilo que é unanimidade até na Lua. Elogiando o que é consenso, Neto sobressai-se apenas pelo mau gosto dos elogios exagerados e pela elevação da voz acima do bom senso, muitas vezes acompanhada de gesticulação espalhafatosa, como se ele estivesse falando em um palanque. Neto levou ao programa de esportes aquela postura de justiceiro, quase sempre pseudomoralista, dos programas policiais. O que é bom em seu programa é só aquela espontaneidade caipira que o leva a dizer aqui e ali um gracejo inconveniente para o circo televisivo ou dar uma opinião típica da irresponsabilidade que nos assalta em mesa de bar: isso faz com que nos sintamos próximo dele, dá a sensação de que de futebol todos entendemos. Mas Neto é tão tonto que está tentando apagar esse seu estilo naïf: tem lutado para se tornar um profissional. Espero, sinceramente, que ele nunca se profissionalize.

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