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sábado, 18 de agosto de 2012

Ponyo: uma amizade que veio do mar (Japão, 2008), de Hayao Miyazaki


Em suas animações, Hayo Miyazaki produz uma crítica à técnica que, tecnicamente, constitui um deslumbre para os nossos olhos e um saudável susto para nossa imaginação. Tal crítica se assenta num ecologismo cuja mensagem não é das mais novas: a sociedade industrial-tecnológica dessacralizou a natureza, transformando-a em mera fonte de fornecimento de matéria-prima. Miyazaki é um nostálgico; anseia por uma natureza não esquadrinhada pela ambição humana, uma natureza habitada por entidades mágicas e míticas. E aposta na inocência infantil como possibilidade religação (religare) do homem com as forças mágicas da Grande Mãe. Apesar dessa profissão de fé na criança, o mundo adulto não é caricaturado: não há maniqueísmos em Miyazaki, mas apenas um desejo de compreender as ações humanas, mesmo as más.
                                                                                                   
Ponyo (2008), última produção de Miyazaki, mantém esse padrão discursivo, mas troca a magia das florestas pela do mar. Trata-se, diga-se sem rodeios, de uma ousada e bem-sucedida adaptação do conto “A pequena sereia”, de Hans Christian Andersen. Brunhilde é uma peixinha muito curiosa e com cara de gente; Sosuke um menino muito esperto, filho de um capitão de navio, que tem grande apreço ao mar. Brunhilde conhece Sosuke, que a rebatiza como Ponyo; ela se apaixona por ele, prova do seu sangue humano, começa a virar gente, transgride todos os valores que lhe foram repassados. Este “amor” traz um perigo iminente ao planeta e faz com que homens e míticos seres marinhos se encontrem. Ponyo precisa renunciar a sua condição de ser mítico e entregar-se à Sosuke. Ela o faz; tudo fica bem: homem e natureza religam-se.

Ponyo não atinge os píncaros de imaginação apocalíptica de Nausicaa do Vale do Vento (1984), nem a complexa alegoria do crescimento interior juvenil de A viagem de Chihiro (2001), nem a lírica reversão do “adultocentrismo” de Meu vizinho Totoro (1988). Trata-se da obra de um diretor maduro, dono de seus recursos e de sua mitologia pessoal, que não tem por que arriscar. O desfecho parece uma concessão demasiado generosa com o grande público, e fica aquém do arremate belamente trágico d’A pequena sereia de Andersen.
 

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