Raramente esgotamos um
debate – mesmo os debates saudáveis, com gente civilizada. A covardia (em geral
travestida de prudência) e a preguiça costumam agir com mais eficácia. Vejo
grandes prejuízos nessa atitude, pois ela impede que organizemos melhor nosso complexo
de crença e valores, os argumentos que angariamos na leitura e na vivência
cotidiana. Eu mesmo costumo agir assim, e é com o fito de me remediar desse
defeito que, nos últimos 2 anos, tenho voltado com frequência à querela de
Santo Agostinho com Pelágio. O debate entre Agostinho e Pelágio, para quem o
desconhece, gira basicamente em torno do sentido da natureza humana e do papel
da graça no plano de salvação do homem. Desconheço uma refutação tão completa,
uma contra-argumentação tão paciente, detalhada e meditada como a que Agostinho
impõe a Pelágio, sem desmerecer o adversário. Aquela paciência, aquele rigor,
aquela absoluta honestidade que não prescinde da dureza – eu sinto a cada dia
que tenho que aprender nem que seja mais um pouco daquilo. Por isso talvez eu
goste de pensadores tão díspares como Nietzsche e santo Agostinho. Há livro tão
felizes (como para mim são os de Agostinho) que nos dão não apenas ideias mas
ainda o segredo de como fabricar ideias.
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