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sábado, 18 de janeiro de 2014

A Novela do Félix







Do ponto de vista estritamente moral, há mais coisas a se condenar em Camões, Dostoievski, Machado, Pound, Eliot e Céline do que na novela do Félix. O problema da novela do Félix é esquematismo óbvio do roteiro, que beira a incoerência algumas vezes; são as atuações pobremente caricatas e didáticas; é a encenação (mise-en-scène) pobre, material e simbolicamente falando; é a iluminação sem ênfase e às vezes até sem foco. Em suma, só vejo uma forma coerente de se criticar a novela do Félix: ela é esteticamente pobre. Mas ninguém é obrigado a viver diuturnamente nas alturas estéticas de um Bach e de um Shakespeare. Além disso, temos de lembrar que a elevação do nível cultural de um país não se concretiza por meio de canetadas ou de clamores moralistas. Sinceramente falando, acho esnobe a crítica moral da novela do Félix, ou de qualquer outra novela. Minha mãe, evangélica e de conduta moral exemplar, gosta dessa novela e continua sendo a mesma boa mãe e boa cidadã que ela sempre foi. E como ela há milhões de pessoas em todo o Brasil, que querem simplesmente relaxar com uma narrativa curiosa e engraçada – e a novela do Félix, malgrado suas limitações estéticas, é curiosa e engraçada.

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