Translate

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Paternidade


Sacrifício de Isaac por Rembrandt

Deus me deu o dom da paternidade. E o fato de eu ser pai é o princípio (arqué) de parte considerável dos meus gestos de bondade: como professor, como amigo, como cidadão. Essa convicção faz com que eu reconheça a boa intenção, mas não me encante nem um pouco, com certas exteriorizações pós-modernas do amor pelo filho, como o hábito de tatuar o nome dos pequenos no corpo ou o de escrever a cada minuto nas redes sociais que os ama. Tais gestos são sinceros, verdadeiros – atire a primeira pedra o pai ou a mãe que nunca fez algo parecido! – mas a meu ver absolutamente redundantes. Eles dizem que você ama seu filho, o que todos já sabem, mas não indicam em que esse amor fez você tornar-se uma pessoa melhor. Afinal, não implica grandes méritos nem requer grandes esforços gostar do filho e achá-lo o mais bonito. É amor, mas não amor (ágape) que age em prol do outro. No limite, tais gestos podem ser confundidos com narcisismo oco – e infelizmente, algumas vezes, são isso mesmo. 

Nenhum comentário: